A desativação do Ramal Ferroviário de Londrina-Ourinhos

Na mesma semana em que o Governo Federal anunciou planos de investimentos de R$ 80 bilhões e concessões, para estimular e ampliar o transporte ferroviário no Brasil, a concessionária Rumo Logística na prática já desativou o ramal de Ourinhos, que faz a ligação até Londrina num trecho de 217 quilómetros.

2ª Via do pátio ferroviário de Cornélio Procópio/PR. (Foto: Arthur Batista de Paula)

O ramal ferroviário que liga Londrina a Ourinhos, no interior de São Paulo, foi desativado no dia 16/01 (terça-feira). O trecho era operado pela Rumo Logística dentro do programa de concessões de ferrovias do Governo Federal. Com a desativação, o ramal que viabilizou a colonização do Norte do Paraná ficará ocioso por tempo indeterminado.
O trecho era uma importante via de transporte de combustíveis e fertilizantes. Dados da Rumo mostram que em 2023 foram transportados mais de 100 mil toneladas de cargas pelo ramal. A última operação comercial realizada no ramal foi em Dezembro do ano passado, mês em que se encerraram os compromissos já demandados com a concessionária do trecho.
Em nota, a Rumo explica que decidiu pela desativação do ramal por "falta de demanda". A reabertura do trecho não foi descartada pela empresa, mas depende de "discussões da renovação da Malha Sul", que foi qualificada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do Governo Federal.
O entendimento do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana, entidade que representa os trabalhadores no ramal, é outro. Para o presidente da entidade, José Claudinei Messias, a empresa estaria atuando de forma deliberada para inviabilizar o transporte ferroviário no trecho ao aumentar de forma abusiva os custos do frete ferroviário.
"No último ano, ela (a Rumo) começou a praticar tarifas abusivas com os clientes, principalmente as companhias de petróleo, adubo e grãos", alegou Messias, em entrevista à RPC. "Você aumenta demais o custo, aumenta esse frete de uma forma absurda e faz com que se torne inviável para o cliente", completou.
De acordo com o sindicato, o último reajuste aplicado no frete para o ramal teria sido de 64,92%. Além disso, a entidade sindical também alega que a concessionária estaria abandonando e sucateando trechos considerados produtivos de forma proposital.
A Rumo confirmou que a empresa continuará com 33 trabalhadores na região. Estes colaboradores, divididos entre Jataizinho, Cornélio Procópio e Cambará, no Norte Pioneiro do Paraná, "continuarão desempenhando suas atividades para garantir a manutenção de via", garante a Rumo.
Trabalhadores
No processo de desativação, alguns dos funcionários que trabalhavam no ramal receberam um aditivo ao contrato de trabalho no qual teriam que optar ou pela transferência para outra unidade ou pela demissão. De acordo com a Rumo, 27 trabalhadores receberam a "oferta de novos trabalhos na companhia em outras localidades".
Em Ourinhos/SP tinha 35 funcionários, alguns foram transferidos e outros foram demitidos, atualmente permanece 11 funcionários da estação de Ourinhos. Nas Turmas de Via de Cambará/PR, Cornélio Procópio/PR e Jataizinho/PR, alguns funcionário foram demitidos e outros optaram pela transferência para outras unidades da empresa.
O último trem passando pela antiga Estação Ferroviária de Cornélio Procópio/PR. 
(Foto: Arthur Batista de Paula)
Manifestação de Autoridades
O deputado Luiz Cláudio Romanelli (PSD) disse no mesmo dia (16/01), que vai apresentar requerimento na primeira sessão da Assembleia Legislativa acionando a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) contra a paralisação das operações da linha férrea de 217 Km entre Londrina/PR e Ourinhos/SP. "A concessionária (Rumo) alega que a falta de demanda comercial motivou a decisão, o que é um absurdo e um verdadeiro retrocesso".
A ferrovia São Paulo-Paraná, afirma Romanelli, tem quase um século de história, um canal de transporte de cargas como combustíveis, fertilizantes e grãos dos mais diversos tipos. "A decisão é absurda pois o transporte ferroviário é o segundo modal mais barato do mundo. É viável financeiramente e o menos poluente. Além disso, a paralisação do trem carece de visão estratégica em relação à economia verde, a que mais cresce no mundo", disse.
"Na Assembleia Legislativa não vamos ficar de braços cruzados. Vamos acionar a Agência Nacional de Transportes Terrestres e tomar outras medidas para reverter a decisão. Foi muito triste poder assistir o povo procopense ver em Cornélio pela última vez o trem passar. Isso faz parte do processo civilizatório da nossa região. Nós não vamos aceitar. A Rumo tem um contrato e ela tem que cumprir", completou.
O ramal entre Londrina e Ourinhos, afirma Romanelli, tem uma participação direta no desenvolvimento do Norte Pioneiro. "Cornélio Procópio desenvolveu-se às margens do Km 125 da ferrovia. A estação na cidade foi fundada em 1930. Antes de ser chamado de Cornélio Procópio, a vila era conhecida como KM-125", disse.
Os deputados Luiz Cláudio Romanelli (PSD) e Tercílio Turini (PSD) assinam um requerimento protocolado no dia 17/01 (Quarta-feira), na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) em que pedem explicações do órgão sobre a paralisação da linha férrea operada pela Rumo Logística.
O deputado Tercílio Turini considera um absurdo a decisão da empresa Rumo de desativar o ramal ferroviário entre Londrina e Ourinhos (SP) e suspender o transporte de cargas na Ferrovia São Paulo-Paraná. "É uma medida que vai na contramão de todo esforço para fortalecer o desenvolvimento do Norte e Norte Pioneiro. Estamos num momento em que os municípios batalham por mais infraestrutura e logística para atração de investimentos, indústrias e novos empreendimentos. Precisamos unir lideranças políticas e do setor produtivo, mobilizar a comunidade e buscar alternativas para reverter essa decisão", afirma Turini.
Resposta da ANTT
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) recebeu as justificativas da Rumo Logística S.A. para o fim do transporte ferroviário no ramal que liga Londrina/PR a Ourinhos/SP. De acordo com a agência, não há irregularidades no fato de a empresa não utilizar mais o trecho que liga Paraná a São Paulo para o transporte regular de cargas.
Para a ANTT, a Rumo explicou os motivos pelos quais o trecho deixará de ser utilizado. A justificativa é a mesma apresentada anteriormente, de que a operação no ramal se tornou inviável pela falta de procura das empresas da região pelo transporte ferroviário. Serão mantidas as atividades de manutenção e conservação da ferrovia e da estrutura, segundo informação da Rumo prestada à ANTT. Por isso, reforçou a agência, “não há suspensão, paralisação, interrupção ou supressão irregular do transporte”.
Para embasar os motivos que levaram ao fim do uso de trens para o transporte de cargas no ramal, um dos mais antigos do norte do Paraná e fundamental para a colonização da região, a Rumo detalhou à ANTT os números referentes ao transporte de cargas na ferrovia nos últimos cinco anos. As cifras, segundo os dados da empresa, vêm caindo.
Em 2019 foram transportadas 456 mil toneladas de carga pelos trilhos entre Londrina e Ourinhos. Em 2020 este total baixou para 376,7 mil toneladas. No ano seguinte, 2021, a redução foi menor, mas persistente. Naquele ano foram 360,2 mil toneladas, contra 297,1 mil toneladas em 2022. Em 2023 a queda no transporte foi mais significativa, despencando para 83,8 mil toneladas movimentadas pelo ramal ferroviário de 217 quilômetros de extensão.
Parte dessa queda na utilização da ferrovia pode ser creditada, aponta a ANTT, ao fato de o trecho ter sido utilizado por uma variedade cada vez menor de mercadorias transportadas. Entre os anos de 2019 e 2022, afirma o órgão federal, passaram pelos trilhos cargas de combustíveis, adubos e fertilizantes. Estes dois últimos, porém, deixaram de circular pela ferrovia no ano seguinte, o transporte foi exclusivamente de combustíveis em 2023.
Contrário ao fim do uso dos trens no ramal, o Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana alega que a empresa estaria aumentando de forma abusiva os custos do frete ferroviário. De acordo com a ANTT, porém, as informações prestadas pela Rumo mostram que entre os anos de 2019 e 2024 a tarifa média praticada foi de R$ 19 por tonelada transportada. “O valor pode variar de acordo com o tipo de carga desde que sejam respeitados os limites máximos homologados”, reforça a agência.
Trem tanqueiro da Rumo parado no pátio ferroviário de Cornélio Procópio/PR.
(Foto: Arthur Batista de Paula)
Em Dezembro a Rumo chamou a desativação do trecho de "rumor"
No fim de 2023, a Rumo chegou a desmentir um vídeo que circulou nas redes sociais mostrando uma composição que saía de Ourinhos em direção ao Paraná. O vídeo afirmava que aquele seria o último trem de carga a trafegar pelo trecho. Em nota emitida à época, a Rumo classificou a informação sobre o fim do uso do ramal de “rumores” e afirmou que a ferrovia permaneceria “ativa e operacional”.
A empresa foi questionada pela reportagem sobre o fato de ter tratado o fim do uso da ferrovia como um rumor em dezembro de 2023, e de ter suspendido o tráfego de trens de carga cerca de um mês depois, em janeiro de 2024. Em resposta, a Rumo explicou à Gazeta do Povo que a nota retrata exatamente o que estava acontecendo naquele momento, que eram tratativas comerciais que não foram viabilizadas para renovação dos contratos.
Fiscalização
Após a desativação do ramal, a Rumo Logística enviou uma equipe de fiscalização para evitar invasões na faixa de domínio ao longo da ferrovia, a equipe já pegou algumas invasões em Bandeirantes/PR e também em Cornélio Procópio/PR.
A equipe de Via Permanente está fazendo rondas em todo o trecho ferroviário para fiscalizar as faixas de domínio e ver as condições da via férrea. A ABP Ferrovias também está colaborando com a fiscalização junto com a Rumo, DNIT e ANTT.
A concessionária deverá manter a fiscalização e manter o trecho em condições de tráfego até 2027 quando vencer o contrato de concessão da Malha Sul.
Auto de Linha da Rumo fazendo inspeção de via no trecho de Cornélio Procópio/PR.
(Foto: Arthur Batista de Paula)

Alta dos Preços
Segundo especialista consultado pela Folha de Londrina, a paralisação pode fazer com que empresas estabelecidas ao longo do trajeto migrem para outras regiões, assim como pode levar ao aumento no preço de produtos, já que o transporte rodoviário é mais caro e poluente do que o ferroviário. Com a desativação do ramal ferroviário entre Londrina e Ourinhos, o economista afirma que a decisão tende a encarecer o custo de transportes das empresas que estão instaladas ao longo desse “caminho”. Além disso, também existe um cenário em que as empresas migrem da região para outras mais bem servidas de malhas ferroviárias. Com diversas fábricas de fertilizantes e adubos, assim como com forte potencial na produção de combustíveis, esse tipo de trabalho pode se tornar inviável, já que o preço para fazer o transporte ficaria muito elevado, destaca o professor. A decisão da Rumo envolve apenas o ramal entre Londrina e Ourinhos, já as operações no ramal que vai de Londrina à cidade de Apucarana continuam normalmente.
Pitaguari pontua que a desativação do ramal ferroviário também pode encarecer os produtos e alimentos nas gôndolas, já que, com o preço mais elevado do transporte rodoviário, o aumento tende a ser repassado para o consumidor final. “Algumas mercadorias dessas, como combustíveis ou fertilizantes, chegavam de trem a um custo mais barato e agora vão ter que chegar de caminhão com um custo mais caro”, afirma, acrescentando que o problema é sério e pode afetar o desenvolvimento de toda a região Norte do Paraná, assim como outras partes do estado. “Os impactos são múltiplos e difíceis de calcular”, reforça.
A respeito da justificativa apresentada pela Rumo para o desligamento do ramal férreo, dizendo que não existe demanda comercial para a continuidade das operações, Sinival Pitaguari afirma não acreditar. Segundo ele, as concessões costumam ser de décadas e o mercado flutua, ou seja, pode ser apenas que os lucros neste momento não estejam suprindo as expectativas da empresa. “Então a questão não é que não há demanda, a questão é que talvez essa demanda que existe no atual momento seja menor do que aquilo que a empresa planejou quando ela conquistou a concessão”, opina.
Manutenção da Via
Valdecir Tavares Ruiz, diretor do Sindifer (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias nos Estados do Paraná e Santa Catarina), explica que o trajeto de 217 Km de linhas férrea entre Londrina e Ourinhos é dividido em trechos, sendo que uma equipe fica responsável pelo transporte até Cornélio Procópio. Nesse ponto, os funcionários de Ourinhos assumem o trajeto até a cidade do interior paulista. Além da falta de funcionários para atuar no trajeto, ele reforça que a situação da linha férrea é precária.
No trecho, ele explica que os trens precisam trafegar a uma velocidade entre 10 e 15 Km/h, sendo que o normal são 20 Km/h. Segundo ele, a Rumo tem demanda para continuar operando na via, mas o que a concessionária não quer é investir na revitalização do ramal. “Esse trecho da linha férrea está em situação precária, a Rumo só vai lá e troca dormente, que é aquela madeira que fica debaixo da linha”, explica, complementando que é mais barato para a concessionária desativar o trecho do que investir na recuperação.
Ruiz detalha que há alguns anos pelo menos cinco trens faziam o trajeto todos os dias. Sem a manutenção adequada e com muitos casos de descarrilamento, a concessionária teria iniciado um processo de redução das viagens para uma vez ao mês. “O mato está alto demais. Ela parou, abandonou o trecho”, relata, contando que o tempo de viagem, que era de oito horas, mais que dobrou.
Pátio ferroviário de Cornélio Procópio/PR (Foto: Arthur Batista de Paula)

Entrega da Concessão
Há boatos de que talvez em Fevereiro de 2027, assim que vencer o contrato de concessão da Malha Sul entre a Rumo Logística e o Governo Federal, a empresa vai entregar toda a malha para a União, assim como fez com a Malha Oeste em 2020, assim a Malha Sul irá para uma licitação, onde terá uma data marcada para um leilão onde empresas interessadas na ferrovia podem assumir a concessão. A Malha Sul abrange o interior do estado de São Paulo, grande parte do estado do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, lembrando que a região sul movimenta cerca de R$ 1.308.148.000.000 de PIB e é umas das regiões mais ricas em Agropecuária e Indústria.
Possibilidade de Volta
A possibilidade de volta dos trens na região do norte do Paraná são nulas, até o momento a empresa não mostrou nenhum interesse em voltar com o transporte de cargas no trecho e também não apareceu nenhum cliente interessado em fechar negócio com a empresa, já que o custo do frete é alto e inviável para os clientes. Mas há uma esperança que talvez o movimento pode voltar em 2025, foi anunciado pelo Grupo Cosan (proprietário da Rumo) a mudança do CEO da empresa, o atual CEO (João Beto Abreu) irá sair da empresa e entrar na Suzano Celulose e o seu sucessor será o Pedro Palma que trabalha na Rumo há 9 anos e assumirá o cargo de CEO da empresa no dia 1º de Abril (01/04) deste ano, com essa mudança na administração poderá mudar várias coisas dentro da empresa. Esperamos que esse novo presidente veja um grande potencial na Malha Sul em geral.
Além disso, temos também a volta dos pedágios na região, com isso o frete dos caminhões podem subir bastante, pois muitos caminhões preferem desviarem da rota para não pagar pedágio, isso pode afetar nos custos de manutenção e também no diesel já que o consumo pode ser bem maior. A alta do diesel também pode gerar alterações no valor do frete dos caminhões, neste ano o diesel atingiu o seu maior valor custando R$ 5,91, com isso, os clientes podem voltar à optar pelo transporte ferroviário.

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